Casa Branca ‘de ouro’: Trump ganha 3 mil milhões de dólares desde o regresso

Jornal espanhol ‘El Confidencial’ destaca que a riqueza pessoal de Trump cresceu 70% em apenas nove meses, passando dos 4,3 mil milhões em 2024 para o novo recorde registado em setembro, segundo cálculos da revista ‘Forbes’

Francisco Laranjeira
Dezembro 9, 2025
12:30

Donald Trump atingiu uma fortuna inédita de 7,3 mil milhões de dólares, impulsionada sobretudo pelos lucros obtidos com criptomoedas. A valorização acelerada elevou o presidente americano a um dos maiores ganhadores individuais do ano, mas a instabilidade nos mercados e as críticas sobre potenciais conflitos de interesses estão a reacender o debate político em Washington.

O jornal espanhol ‘El Confidencial’ destaca que a riqueza pessoal de Trump cresceu 70% em apenas nove meses, passando dos 4,3 mil milhões em 2024 para o novo recorde registado em setembro, segundo cálculos da revista ‘Forbes’. Esse avanço valeu-lhe uma subida de 118 posições na lista dos mais ricos dos EUA, onde ocupa agora o 201º lugar. “Nenhum presidente na história dos EUA usou a sua posição de poder para acumular lucros tão imensos como Trump”, sublinha o artigo — uma acusação que intensifica o escrutínio ético sobre a gestão dos seus negócios enquanto exerce funções.

Criptomoedas e mercados voláteis alteraram o equilíbrio patrimonial

O ‘El Confidencial’ refere que a principal fonte de enriquecimento tem sido a World Liberty Financial, empresa de criptomoedas criada pelo presidente e pelos seus três filhos. O projeto demorou a ganhar tração, mas beneficiou da chegada de Trump à Casa Branca. Ainda assim, a volatilidade das criptomoedas e da inteligência artificial tem provocado oscilações intensas no património presidencial. A ‘Bloomberg’ estima que, no final de novembro, a fortuna da família rondava os 6,7 mil milhões de dólares — menos do que em setembro, mas ainda assim acima dos níveis registados antes do regresso ao poder.

A dinâmica de ganhos e perdas tem sido acompanhada de perto por investidores que seguiram aquilo que o ‘Wall Street Journal’ descreve como as “operações de Trump”: apostas em setores como saúde, prisões privadas ou ativos digitais, antecipando políticas favoráveis no segundo mandato. No entanto, muitas dessas posições têm enfrentado dificuldades ao longo do ano.

Acusações de conflito de interesses regressam ao centro político

A evolução financeira do presidente reacendeu dúvidas sobre a fronteira entre as decisões políticas e os seus interesses privados. O jornal recorda episódios marcantes, como a celebração no Salão Oval em abril, quando, após dias de pânico nos mercados devido a ameaças tarifárias, Trump apontou para investidores presentes e comentou, entre risos, “Ele ganhou 2,5 mil milhões de dólares e ganhou 900 milhões de dólares! Nada mau!”

A situação levou democratas a exigirem investigações sobre eventual uso de informação privilegiada. Críticas públicas acumularam-se: o ator Harrison Ford acusou o presidente de “ganhar uma fortuna enquanto o mundo vai para o buraco”, enquanto a comentadora televisiva Sunny Hostin afirmou que Trump está a “saquear o Governo federal” com lucros de milhares de milhões desde 2017.

Pressão sobre o Gabinete de Ética Governamental

O debate sobre governança intensificou-se após o presidente ter demitido, a 10 de fevereiro de 2025, o diretor do Gabinete de Ética Governamental (OGE), David Huitema, nomeado por Joe Biden. Doug Collins, antigo congressista republicano, foi colocado no cargo. É a primeira vez, desde a criação da agência em 1978, que um presidente demite o seu líder.

O jornal espanhol lembra que, durante o primeiro mandato, também houve tensão semelhante: em 2017, Walter Shaub demitiu-se da direção do OGE alegando que a administração tinha abandonado as “normas e tradições éticas” que balizavam a função pública. Na altura, Shaub denunciou como “extremamente inapropriado” o facto de Trump manter interesses diretos no Trump International Hotel Washington, onde o próprio Governo federal realizava eventos.

Um presidente-empresário fora da norma histórica

O ‘El Confidencial’ sublinha que Trump rompe com a tradição presidencial americana. Embora historicamente muitos dos primeiros presidentes tivessem negócios, no último século tornou-se regra colocar ativos empresariais em fundos fiduciários cegos — como fez Jimmy Carter. Trump, pelo contrário, manteve os seus ativos e continua a receber lucros, apesar de ter transferido a gestão formal para os filhos.

A discrepância entre os números reivindicados pelo próprio e as estimativas independentes também acompanha o magnata desde 2015. Na primeira campanha presidencial, afirmou que o seu património ultrapassava os 10 mil milhões de dólares, enquanto a ‘Forbes’ o avaliava em 4,5 mil milhões e a ‘Bloomberg’ abaixo dos 3 mil milhões.

Após vencer duas eleições e regressar ao poder, Trump vê o seu património atingir níveis sem precedentes — um efeito direto, segundo o jornal, de investimentos associados ao seu nome, das movimentações nos mercados e do peso político que concentra hoje em Washington.

O resultado é inequívoco: a Casa Branca “está a revelar-se muito conveniente para o magnata Trump”.

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